Supremo Tribunal Federal autoriza aprofundamento das investigações sobre lobistas e advogados envolvidos no esquema criminoso de venda de decisões judiciais
Por Mino Pedrosa
O Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do ministro Cristiano Zanin, autorizou a ampliação das investigações da Polícia Federal (PF) sobre o esquema de corrupção envolvendo a venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Um novo personagem pode mudar o rumo das investigações, até agora focadas apenas em servidores.
O conhecido doutor Mauro Lacerda, que se apresentava aos chefes de gabinete dos ministros como sobrinho do ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), no governo passado do presidente Lula, Dr. Paulo Lacerda, prestigiado delegado, entrou na mira dos investigadores por sua estreita relação com o advogado lobista Andreson Gonçalves, preso desde novembro do ano passado.
O empresário é apontado como o principal operador do esquema de venda de sentenças no STJ, pois aparece em trocas de mensagens no WhatsApp antecipando decisões e minutas de ministros da Corte. Sua esposa, que também é advogada, foi alvo de buscas da operação e está usando tornozeleira eletrônica. O delegado também lista nove processos no gabinete do ministro Paulo Moura Ribeiro, nos quais a esposa de Andreson, Mirian Ribeiro, e o advogado Roberto Zampieri atuaram.
A decisão inclui mais um gabinete na mira das autoridades, totalizando agora quatro setores do tribunal sob suspeita de envolvimento no vazamento de decisões judiciais e na possível venda de sentenças.
A nova etapa da apuração surge após a PF encontrar mensagens de lobistas comemorando decisões supostamente manipuladas no gabinete do ministro Paulo Moura Ribeiro. Um servidor que atuou nesse gabinete também foi citado como peça-chave no esquema.
Zanin não apenas autorizou o aprofundamento da investigação, mas também determinou a unificação de todas as suspeitas em um único inquérito. Com isso, as acusações contra os gabinetes dos ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Moura Ribeiro passam a ser analisadas de maneira conjunta.
Para a PF, essa decisão agiliza o andamento do caso e facilita a conexão entre os elementos do suposto esquema criminoso.
Ministros intocáveis?
Apesar do acúmulo de indícios, até o momento as investigações miram apenas servidores do STJ, enquanto os ministros seguem ilesos. A própria PF, no entanto, já admite que não pode descartar a necessidade de aprofundar a apuração sobre os magistrados.
Em um trecho de sua manifestação ao STF, a polícia destaca que apenas uma pequena fração dos dados coletados foi analisada até agora e que seria “incauto” excluir de antemão a possibilidade de envolvimento de juízes e ministros.
O esquema veio à tona quando a PF encontrou mensagens entre o lobista Andreson Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri. Nos diálogos, Gonçalves se gaba de ter influenciado decisões judiciais no gabinete de Moura Ribeiro, onde um juiz auxiliar, que antes era desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), poderia ter atuado como elo do esquema.
Além disso, a esposa do lobista, a advogada Mirian Ribeiro, também aparece nos processos investigados. O delegado Marco Bontempo apontou que Gonçalves chegou a compartilhar com Zampieri minutas de decisões antes da publicação oficial, reforçando a tese de que havia manipulação interna na Corte.
Até agora, nenhum dos citados se pronunciou sobre as acusações. A defesa de Andreson e Mirian Ribeiro afirmou que só se manifestará nos autos do processo, enquanto o STJ ignorou os questionamentos da imprensa. O ministro Moura Ribeiro, apesar de procurado, também optou pelo silêncio.
As conexões do esquema vão além do STJ. Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) revelou que a advogada Mirian Ribeiro fez um pagamento de R$ 938 mil ao escritório de Aline Gonçalves, casada com o desembargador César Jatahy, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Questionada, Aline afirmou que foi contratada para serviços advocatícios, mas se recusou a dar detalhes sobre os processos nos quais atuou com Mirian.
Fonte: Fatos Online