Diego Sorgatto transformou a Prefeitura em comitê eleitoral e passou a realizar, com verba municipal, eventos de autopromoção mascarados com propósitos diversos
A gestão do prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto, enfrenta acusações de abuso de poder político e uso indevido da máquina pública para fins eleitorais. As informações recebidas pelo Fatos Online, acompanhadas de fotos, filmagens e áudios, revelam que secretários municipais e gestores comissionados utilizaram o horário de expediente para pedir votos, além de pressionar servidores subordinados a participarem de eventos de campanha. Quando os servidores dão indícios de que não vão cumprir o “acordo”, são ameaçados de perder o cargo.
Entre os indícios apresentados, funcionários da Prefeitura foram flagrados promovendo a candidatura de Sorgatto, que busca a reeleição pelo partido União Brasil. Em alguns casos, servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) publicaram nas redes sociais fotos em que aparecem gesticulando o número do candidato (44) com as mãos, o que viola as normas eleitorais.
Exposição agropecuária
As denúncias também atingem a recente exposição agropecuária de Luziânia, realizada em setembro de 2024. De acordo com a apuração, a festa, que foi custeada com recursos municipais, teve a data alterada propositalmente para o período pré-eleitoral, a fim de favorecer a candidatura de Sorgatto. Apesar de ser tradicionalmente um evento voltado à agropecuária, a edição de 2024 foi marcada pela ausência de animais, negócios de genética e cursos técnicos, enquanto os shows de artistas renomados, como Rionegro & Solimões, atraíram um grande público.
Durante o evento, que teve entrada gratuita, funcionários ligados à administração foram vistos com adesivos de campanha, o que configura propaganda irregular. O prefeito, acompanhado do candidato a vice-prefeito, Télio Rodrigues, apareceu no telão instalado no palco principal e foi celebrado por cantores sertanejos contratados para o evento, o que evidencia ainda mais as suspeitas do uso eleitoral da festa.
Todo o material coletado foi encaminhado ao Ministério Público Eleitoral, que deve investigar o possível abuso de poder e uso de recursos públicos para autopromoção. Além da exposição, outras ações têm sido apontadas como exemplos do uso indevido da estrutura pública para favorecer a campanha de reeleição do atual prefeito.
Os relatos denunciam a utilização de festas e eventos com a justificativa de promover setores da economia, como a agropecuária, mas com o intuito real de impulsionar a imagem de Diego Sorgatto. Os fatos já foram formalmente denunciados, e a expectativa é que o Ministério Público apure as irregularidades, a fim de garantir a igualdade de oportunidades no processo eleitoral de 2024, o que tem sido quase uma exceção nos pleitos fiscalizados pelo país.
Assédio eleitoral
Até a quinta-feira passada (dia 19), o Ministério Público de Trabalho (MPT) já havia recebido 319 denúncias de assédio eleitoral, número que se refere apenas ao que foi registrado pelo órgão. No entanto, boa parte do que ocorre nos municípios brasileiros fica fora do alcance das autoridades de fiscalização. Isso porque a pressão interna é tanta, que pode demorar anos até que alguém denuncie a prática ilegal. Adicionalmente, a maioria dos casos de assédio eleitoral registrados pelo MPT ocorrem dentro de empresas privadas, que são favorecidas por lobbies da prefeitura, do estado ou no âmbito federal.
No entanto, também há o assédio eleitoral dentro da própria administração pública. Quem detém o poder, gere a máquina pública para se manter na gestão do município, além de ameaçar até mesmo os servidores, com a alegação de que a queda do prefeito significaria a queda de toda a equipe que o acompanha.
Foi nessa linha que o Fatos Online recebeu a denúncia de que servidores da Secretaria de Educação estão sendo coibidos a comparecer em eventos eleitorais de Sorgatto. Em um áudio enviado por aplicativo de mensagens, um funcionário alerta os demais para o risco de demissão aos que não comparecerem em um determinado compromisso eleitoral.
“Nem que seja pra você aparecer lá nove e meia só pra dar um sorriso pro prefeito e ir embora. Porque senão você não tá querendo ficar desempregada?”, afirma o servidor da Prefeitura.
“Se vocês não estiverem na reunião, infelizmente, eu vou fazer o quê? Não vou poder fazer nada. Quiser demitir vocês, vou ter que dizer só um lamento pra vocês”, completa.
Os registros revelam que funcionários que deveriam gerir a Educação em Luziânia, mais especificamente o transporte escolar, são usados para preencher os eventos promovidos pelo prefeito, como parte do comitê eleitoral de Sorgatto. Além disso, não é a primeira vez que o representante do Executivo local age contra o interesse público. A reportagem também revelou que o prefeito editou uma lei de isenção tributária para favorecer a própria família.
Fonte: Fatos Online