“Nunca se lembra em quem votou.” “Os candidatos esquecem das promessas que fizeram.” Frases como essas são ouvidas com frequência no Brasil, refletindo a percepção de que o eleitorado tem memória curta para política. Porém, quando analisamos o cenário no Entorno do Distrito Federal, a situação parece ainda mais crítica. A região é constantemente envolvida em escândalos de corrupção, e os mesmos grupos políticos permanecem no poder, mesmo após graves denúncias.
Um exemplo recente é o caso de Luziânia, onde, em abril deste ano, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação para apurar desvios de recursos destinados ao combate à Covid-19. Não é a primeira vez que o município está sob os holofotes: em outra operação, a Polícia Civil apreendeu celulares e computadores de autoridades locais, incluindo prefeito Diego Sorgatto e sua vice-prefeita Ana Lúcia (Podemos). As investigações indicam desvios de recursos habitacionais, ocorridos quando Ana Lúcia era vereadora.
Envolvido em esquemas com o programa “Cheque Reforma”, o prefeito de Luziânia (GO), Diego Sorgatto, quase foi preso na Operação Pacto Espúrio. A Polícia Civil solicitou a prisão temporária dele e de outras oito pessoas, mas a Justiça determinou apenas a busca e apreensão em sua casa e gabinete, além de seu afastamento cautelar das funções públicas. As investigações indicam que cerca de 300 pessoas foram cadastradas indevidamente no programa, resultando em prejuízo de quase R$ 1 milhão. Os cheques foram distribuídos em 2018 e 2019, quando Sorgatto ainda era deputado estadual.
Em Cidade Ocidental, município vizinho a Luziânia, o cenário não é diferente. O prefeito Fábio Lima (PP) foi afastado do cargo durante uma operação da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU), que investiga fraudes em licitações e desvio de recursos públicos. A Operação Ypervoli busca desmantelar uma organização criminosa que atua em Goiás e no Distrito Federal, desviando milhões em contratos de saúde e obras.
Outro caso emblemático é o de Águas Lindas de Goiás, onde o atual prefeito Lucas Antonietti está sob escrutínio após a nomeação do senhor Carlos de Lima Barbosa, envolvido em um contrato suspeito de quase R$ 27 milhões. Mais uma vez, recursos públicos parecem estar sendo mal utilizados em benefício de poucos.
Diante desse panorama, a questão da memória do eleitor ganha ainda mais relevância. Será que o famoso “brasileiro tem memória curta” justifica o retorno contínuo dos mesmos grupos ao poder? Ou estamos diante de uma sociedade que, apesar de estar ciente dos problemas, não vê alternativas reais no cenário político? É curioso pensar que, em tempos de tecnologia avançada, onde eleitores levam suas “memórias artificiais” para as urnas, os lapsos de memória coletiva se tornam mais evidentes.
Talvez o problema não seja apenas de memória, mas de um sistema que perpetua o ciclo de corrupção, desilusão e falta de opções verdadeiramente comprometidas com o bem público. A pergunta que fica é: até quando aceitaremos que a política no Entorno do Distrito Federal siga por esses caminhos tortuosos?
Fonte: Tudooknoticias