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BRB esbanja milhões em patrocínios

De 2018 a 2023, o banco aumentou em 1.582,34% os gastos com patrocínios. A previsão orçamentárias é de que, até dezembro, a verba publicitária some R$ 108,248 milhões. Automobilismo e futebol são os principais focos da estratégia publicitária do BRB. Foto da matriz do BRB de Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Por Chico Sant’Anna

O Banco de Brasília e suas subsidiárias gastaram, nos primeiros nove meses de 2024, R$ 89,240 milhões em publicidade e propaganda. Do BRB, foram 84,960 milhões, o BRB – Crédito, Financiamento e Investimento S.A. (BRB Financeira) e o BRBCARD2 destinaram juntas R$ 4,280 milhões de janeiro a setembro. A quantia despendida em publicidade nesse período é mais do que o dobro do prejuízo contábil de R$ 42,922 milhões, registrado no 1º trimestre desse ano. E a previsão orçamentárias é de que, até dezembro, a verba publicitária some R$ 108,248 milhões. Em contrapartida, os gastos com patrocínio a Causas Sociais foram de apenas R$ 49.500,00, ou seja 0,06% do total gasto até setembro com publicidade.

Sobre o BRB, leia também:

Não foi possível cotejar os gastos de patrocínio com o lucro contábil do banco desse ano, pois até o fechamento dessa matéria, o BRB não havia feito a divulgação de outros balancetes trimestrais. No ano passado, contudo, os gastos com patrocínio representaram 63,09% do Lucro Líquido Contábil do BRB.

O gráfico elaborado pelo DIESE-DF demonstra a evolução dos gastos com patrocinio de 2018 a 2023. Nesse período, o dispêndio do banco aumentou em 1.582,34%.

Nos dois governos de Ibaneis Rocha o dispêndio com essa rubrica vem crescendo acentuadamente. De 2018 a 2023, o banco aumentou em 1.582,34% os gastos com patrocínios.

“O banco gastava apenas R$ 7,68 milhões, em 2018. Em 2020 assinou um contrato de “parceria (o que na prática é um patrocínio também) com o Clube de Regatas do Flamengo, pelo valor de 1087.18 milhões, divididos em  três anos […] O principal aumento desse ano (2023) se deve ao patrocínio do automobilismo, que passou dos R$ 13,88 milhões, registrados em 2022, para R$ 32,13 milhões, em 2023, crescimento de 131,46” – registra o estudo do Dieese-DF intitulado Análise dos gastos com patrocínio do BRB 2018-2023.

Em contrapartida aos milhões de reais pagos a escuderia franco-britânica Alpine, o banco ganha o direito de ter estampada a sigla BRB no nariz do carro, na faixa ?? e nos bonés dos pilotos. Foto do site oficial da escuderia Alpine.

Automobilismo

Em 2024, segundo o Dieese-DF, que também analisou as contas do BRB desse ano para o Sindicato dos Bancários do Distrito Federal, o banco privilegia a publicidade em automobilismo.

Entre janeiro e setembro de 2024, foram R$ 31,027 milhões nessa modalidade (36,74% do total de patrocínio). Essa predileção pelo automobilismo, numa cidade em que o autódromo e o kartódromo estão desativados, chamou ainda mais a atenção quando da recente realização do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, em Interlagos.

Apesar de o contrato de patrocínio do BRB prevê que os bonés dos pilotos estampem a logomarca do banco. Foto do site oficial da escuderia Alpine.

Veio a público que o BRB patrocina já há algum tempo a equipe franco-britânica BWT, Alpine, de propriedade da montadora francesa Renault, sendo que nem mesmo os pilotos são brasileiros.

Dados publicados no diário oficial em abril desse ano apontam que o BRB pagou aos franco-britânicos, no primeiro trimestre do ano, R$ 1.657.433,33. No terceiro semestre de 2023, já havia pago R$ 1.187.400,00. Não foi possível apurar se outros pagamentos foram realizados, mas o Dieese aponta um apoio superior a R$ 7 milhões. A escuderia aparece dentre os grandes beneficiários, assim como o Flamengo, considerando todas as estruturas: futebol, museu, basquete, etc

Em contrapartida aos R$ 7,084 milhões, o banco ganha da escuderia o direito de estampar a sigla BRB no nariz do carro. Ela fica ao lado das de outros patrocinadores e, segundo especialistas nesse tipo de técnica, a exposição é bastante discreta, até dificil de ser visualizada. Além do bico do carro, a marca BRB é afixada na faixa promocional dos carro A524 da BWT da Alpine F1 Team, durante toda a temporada 2024 da Fórmula 1; e nos bonés dos pilotos. Entretanto, fotos oficiais do site da Alpine apresentam os pilotos sem nenhum registro do BRB em seus bonés ou vestimentas.

Grande Prêmio

Segundo o jornal o Estado de São Paulo, o BRB gastou pelo menos R$ 3,2 milhões para comprar ingressos de camarotes para dirigentes do banco, empresários, clientes e políticos no Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, realizado dia 03/11. O banco público, que pertence ao governo do Distrito Federal, comprou 110 ingressos. Fotos nas redes sociais do governador indicavam a presença dele, do presidente do BRB, Paulo Henrique Bezerra Rodrigues, do ex-senador e empreiteiro Paulo Octávio, e políticos locais de Brasília, dentre outros. Ao Estadão, o BRB disse que a ação teve por objetivo “fortalecer a marca, fomentar negócios e ampliar relacionamentos com clientes”. Rambém estiveram no Autódromo, os deputados distritais Robério Negreiros (PSD) e Eduardo Pedrosa (União Brasil), André Octávio Kubitschek, filho de Paulo Octávio, e o presidente do Codese/DF, Leonardo Ávila.  Todos assistiram à prova, mas não se sabe se foram contemplados com os convites do BRB.

Na foto da esquerda, o governador Ibaneis Rocha, o ex-governador de São Paulo, João Doria, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, e empresário Paulo Octávio presidente do PSD-DF.  Estavam acompanhados por empresários da cidade, como Paulo Octávio e André Octávio Kubitschek, e do presidente do Codese/DF, Leonardo Ávila.  Na foto da esquerda, No autódromo, Ibaneis, sua esposa e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), acompanhado da esposa Regina Carnovale Nunes. (Fotos redes sociais)

Os convites foram divididos em duas categorias, segundo o jornal paulista: 70 ingressos para o “lounge exclusivo” F1 Paddock Club, ao preço de R$ 35,6 mil cada. O Paddock Club é uma área VIP, considerada a forma mais exclusiva de ver uma corrida da Fórmula 1, com uma visão privilegiada da pista. Além de música ao vivo e gastronomia requintada. Os outros 40 ingressos foram para a área VIP Interlagos Suítes, ao custo de R$ 17,6 mil cada, totalizando R$ 706 mil reais.

A aquisição desses ingressos levantou ainda mais os questionamentos sobre a transparência da gestão do Banco de Brasília. A deputada federal Erika Kokai considerou inadmissível o gasto de milhões para levar 110 pessoas, “amigas do rei”, para assistir a Fórmula 1. “O BRB é um banco público, não pode ter seus recursos destinados para amigos e amigas do governador assistirem Fórmula 1, gastando R$ 3 milhões” – disse ela, lembrando que o Banco está atrasado na publicação de seus balancetes trimestrais. Afirmou ainda que irá acionar o Banco Central e a Comissão de Valores Imobiliários. “O BRB tem que cumprir sua função social e tem que deixar de patrocinar farras com os amigos do governador do Distrito Federal” – comentou em vídeo no seu perfil do Instagram.

“É esse o papel de um banco público? Banco público é para ajudar o povo” – comentou também em vídeo nas redes sociais, Ricardo Cappelli (PSB), que foi interventor na secretaria de Segurança por ocasião do 8/1. Ele questiona essa ação do BRB, ao mesmo tempo que cobra juros altíssimos dos empreendedores do Distrito Federal quando necessitam de empréstimo para capital de giro.

“A pergunta é: o BRB está realmente beneficiando a população do DF? Enquanto isso, milhares de servidores pagam juros abusivos e enfrentam dívidas crescentes. Se o banco tem dinheiro sobrando, que invista na Educação, com a reforma das escolas e a instalação de ar-condicionado. Quer investir no Esporte? Que tal reformar o Abadião ou o Augustinho Lima?” – postou nas redes sociais o deputado distrital Chico Vigilante (PT).

Futebol

Se futebol é a preferência nacional, como diz o bordão, no BRB a modalidade perde para o automobilismo, mesmo assim, os gastos do BRB são significativos. Em 2024, o Banco de Brasília perdeu a primazia de ser o patrocinador máster do Flamengo, mas futebol continua sendo um dos focos prioritários. É o segundo grupo que mais verbas recebe. Nos primeiros nove meses foram R$ 26,505 milhões (31,39%) do total.

“Para contextualizar, o gasto do BRB apenas com patrocínio de futebol nesses nove meses superou o total investido em todo tipo de patrocínio pelo Banpará e o Banestes, juntos, em 2023. O Banestes, que obteve lucro líquido de R$ 370,62 milhões em 2023, investiu R$ 6,21 milhões em patrocínios no ano; o Banpará, com lucro de R$ 281,13 milhões, investiu R$ 17,59 milhões. Já o BRB, que registrou um prejuízo contábil de R$ 42,922 milhões no 1o trimestre de 2024 e ainda não divulgou os balanços dos 2o e 3o trimestres, já gastou mais com patrocínio do futebol nos primeiro nove meses do ano, do que esses dois bancos estaduais gastaram em todos os tipos de patrocínio no ano de 2023” – diz o parecer Estudo sobre as Despesas do BRB com Patrocínios – janeiro a setembro de 2024, do Dieese-DF.

Em terceiro lugar, nos grupos de patrocínio oficiais do banco aparece o segmento de eventos e entretenimento. Foram R$ 7,225 milhões, de janeiro a setembro, 8,55% do total gasto. Em seguida, mais esporte, dessa vez o tênis, que consumiu no mesmo período R$ 5.508.965,50 (6,53%) e os shows musicais, R$ 4.733.333,64 (5,61%).

À esta coluna, o BRB informou por meio de nota que as suas ações seguem, ainda, prática do mercado bancário nacional.

“Desde 2019, o Banco BRB definiu em seu planejamento a necessidade de expandir para além do Distrito Federal.  Como resultado, as ações de patrocínio e relacionamento têm se orientado em fazer com que a marca do BRB seja reconhecida nacionalmente, inclusive com o apoio a diferentes modalidades esportivas de abrangência nacional como futebol, tênis e automobilismo. Todas essas ações permitiram ao Banco crescer de 680 mil para cerca de 8 milhões de clientes, distribuídos em praticamente todos os municípios do país,  além de conseguir uma valorização da marca” – diz o texto.

O segredo do negócio

“Use e abuse” é um velho slogan publicitário criado para uma marca de mate. Tempos depois, uma loja de departamento, inverteu o bordão e criou o “abuse e use”. Os dois textos visavam incentivar os consumidores a não serem comedidos.

Se os clientes são incentivados a consumir, por sua parte, quem gere as grandes verbas de propaganda deve ser criterioso. No BRB esses slogans do passado parecem ter sido seguidos de forma inversa. A chamada “abusividade” deveria ser do consumidor, do correntista, de quem contrata financiamentos. Publicidade sempre foi a alma do negócio – diz outro bordão do publicitparios -, mas abusar dela pode não ser uma boa estratégia. Gastar muito ou gastar onde seu público não se encontra pode ser considerado uma má gestão das verbas publicitárias. O segredo é saber focar e dosar.

Fonte: Chicosantanna.wordpress.com

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